sábado, 29 de agosto de 2009

Olá, Carolina!!!

Nasceu a Carolina e o Mundo ficou mais bonito. Não porque a Carolina é minha sobrinha, mas porque o Mundo fica sempre mais bonito quando nasce um bebé.
Faz-nos acreditar que as coisas podem ser mais simples e mais bonitas, sem o tom feio e complicado com que os adultos encaram o Mundo.
E eu hoje estou muito feliz porque ganhei uma sobrinha, a minha primeira menina, e porque o Mundo pode sorrir porque nasceu mais uma pequenina estrelinha que faz brilhar os corações dos pais, do irmão, dos tios, dos avós, dos primos e da tia mais babada do planeta.
Bem vinda, Carolina!!!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Outono

Não gosto do frio... Daquele frio que nos apoquenta e nos faz encolher.
Não gosto do frio... Do frio da indiferença entre o um e o outro.
Não gosto do frio do silêncio pesado entre quem se ama...
Gosto do calor. Do calor na tua mão na minha. Do calor de dois corpos que se amam e se fundem num só. Gosto do calor do sorriso das crianças. Gosto do calor dos beijos dos meus filhos.
Gosto do Verão, mas também gosto do Inverno. Do Inverno à lareira, das mantas quentinhas, dos chás a fumegar...
Mas gosto muito mais do Outono. Do Outono que recebeu bonito o meu primeiro filho, do Outono que timidamente se aproximava para receber o segundo.
Gosto do Outono em que nos conhecemos e nos casámos. Do Outono que, entre tons de laranjas e castanhos, nos enriquece a alma.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Início de um conto que ainda não consegui terminar...

Abriu os olhos. O barulho das máquinas a trabalhar na praceta parecia-lhe agora ensurdecedor, como aviões que aterram num cenário de guerra. Sentiu que a cabeça lhe martelava como se estivesse no interior de uma fábrica. O tiquetaque ritmado do relógio na mesa-de-cabeceira irritava-o solenemente, como os passos de um criminoso num filme de terror, um criminoso que o perseguia nem ele sabia muito bem porquê.
Voltou a cerrar os olhos e puxou o edredão de penas de modo a cobrir a cabeça na esperança vã de voltar a dormir. Sabia que era impossível regressar ao sono. Aliás, sabia perfeitamente que a terrível dor de cabeça que o acompanhava não iria passar só porque a escondia debaixo dos cobertores. Olhou novamente o relógio irritante sobre a mesa-de-cabeceira. Passava pouco das nove e vinte. Talvez nove e vinte e três, mais coisa menos coisa.
A boca tinha um gosto estranho… o gosto próprio de quem bebeu e fumou demais na noite anterior. Na juventude, os amigos costumavam dizer que tinham a boca a saber a papel de música, uma comparação perfeitamente ridícula já que não conhecia ninguém que alguma vez tivesse comido papel de música para saber o seu verdadeiro gosto. O facto era que a boca tinha um estranho paladar e, à falta de melhor, sabia-lhe a papel de música.
Decidiu levantar-se, fazer um café forte e tomar um comprimido para tentar por cobro aquela maldita dor que lhe martelava a cabeça. Saiu da cama com a mesma vontade que teria um condenado à cadeira eléctrica. Apetecia-lhe ficar deitado e dormir o resto do dia, se possível o resto da vida. Acordar e levantar-se seria apenas o continuar de algo que queria apagar e não voltar a viver.

O avô...

Das mãos da minha avó saíam peças lindas… bordados cheios de pontos e nós, uns brancos e outros cheios de cores. Bordados valiosos que nunca a fizeram enriquecer, mas que estão espalhados nas casas de gentes com posses que podem dar valor às horas que ela perdia agarrada à agulha.
Nessas alturas ela não tinha tempo para mim… porque estava a trabalhar. Mas depois, pegava em tudo, embrulhava o bordado num lençol de linho imaculado, arrumava as agulhas que guarda religiosamente dentro de uma caixinha com pó talco para não enferrujarem e dedicava tempo à menina (era assim que ela me chamava).
Pegava nos maracujás que amadureciam na fruteira, e que tinham um cheiro que não encontro nos dias de hoje, e fazia-me sumo. Um sumo tão doce… mais doce ainda porque era adoçado pela ternura da avó… no armário havia uma caixa em latão onde guardava as bolachas. Não eram umas bolachas quaisquer, eram as bolachas que ela comprava para a menina na fábrica das bolachas que ficava a caminho da “casa de bordados” onde ela sempre trabalhou. Já não há daquelas bolachas… já não há bolachas com aquele sabor… nem as da fábrica das bolachas são iguais. Há uns anos a mãe foi à fábrica e comprou-as, mas não tinham o mesmo sabor. Se calhar porque o meu paladar já não é o paladar da menina da avó.
A minha avó não brincava comigo. Isso era tarefa do avô. O avô não via. Nunca me viu com os olhos, mas via-me com o coração. E com as mãos. E dizia-me “estás mais crescida” quando punha a mão sobre a minha cabeça. Era no meio do avô e da avó que eu dormia o primeiro sono da noite. Depois, o pai ia buscar-me à cama deles e deitava-me na minha cama.
O avô tinha uma bengala e uns óculos escuros que usava sempre na rua. Dava-me a mão para descer a ladeira e levava-me a passear. Gostava de me levar à Almirante Reis, como ele dizia, e de ir visitar a avó Milagres. A avó Milagres era a mãe do avô. Sempre foi velhinha a avó Milagres, com muitos cabelos brancos. A avó Milagres tinha sempre as mãos quentinhas e gostava de ir a pé quando nos ia visitar.
Na casa da avó houve sempre flores… dois quintais que eram dois jardins. E dentro da casa havia avencas, como só a avó conseguia ter. E havia violetas. No quintal de trás, a avó tinha os fetos que caíam de alturas de dois metros. E tinha a corda da roupa e o tanque de lavar. Tinha o galinheiro e a casota do Duque. O Duque era o meu cão. Aquele que todas as crianças deveriam ter. Um pastor alemão preto que me protegia sempre que o pai me deixava por instantes sozinha no carro para ir comprar cigarros. O Duque não deixava ninguém aproximar-se. Tinha um ar feroz para os estranhos, mas para mim não. O Duque morreu às mãos da maldade dos homens. Tinha acabado de ser pai e chacinaram toda a família. Chorei muito nesse dia. Era uma menina pequena com um vestidinho feito pela avó que não entendia a maldade dos homens e não queria perder o seu herói. O Duque era também da família.
O Duque gostava do avô, mas a avó não gostava do Duque. Sempre que ele atravessava a casa, rumo ao quintal da frente para ir à rua, com o rabo a abanar, a avó corria a proteger as avencas. E resmungava. A avó resmungava muito! E resmungava sempre com o avô. Comigo não! Nunca resmungavam comigo.
O avô jogava às cartas. Mesmo sem ver. E deixava-me sempre ganhar mesmo sabendo que eu fazia batota.
E ria muito, o avô. Pelo menos para mim e comigo. Com os outros não me lembro. O avô tinha sempre tempo para mim. O avô não ia trabalhar nem podia tratar do jardim e das flores, por isso brincava comigo.
Não me lembro do avô à hora de almoço nem ao jantar. Lembro-me dele a raspar a panela do milho que a avó cozinhava e que deixava a arrefecer para nós rasparmos antes da por água para a amolecer antes de lavar.
No fundo da panela do milho, que só servia para aquelas funções, ficava uma crosta que eu gostava de tirar com a colher e com a ajuda do avô. Agora, cá em casa, quem faz o milho é a mãe, a panela já não é a mesma e a crosta do fundo já não tem sabor. Falta cá o avô para ajudar. Já não sou capaz de comer a crosta do milho. Faz-me chorar. E, no outro dia, por isso, senti saudades do avô. Nunca tinha sentido saudades do avô. A culpa foi do milho! Guardo o avô no coração, mas nunca tive saudades dele. Só quando há crosta de milho no fundo da panela. Já disse à mãe que cá em casa não se faz mais milho. A mãe faz na casa dela e eu vou lá buscar. E depois como cá em casa. Mas já não quero ver a crosta de milho no fundo da panela porque me faz doer. A mãe achou estranho, mas sorriu. Acho que ela entendeu. Ela também gostava do avô, mais do que gosta da avó, eu sei. O avô tratava-a bem. Gostava muito da mãe, como se fosse sua filha. A avó era diferente! E também resmungava com a mãe.
O avô dava-me tabaibos. Chamam-se assim na Madeira aos figos da piteira. Tirava-lhe todos os picos e descascava-os. Deixava-os no frigorífico para ficarem fresquinhos. Gosto tanto de tabaibos. Nunca mais os comi. O avô também gostava de abacate. Comia abacate no pão. A árvore ainda está lá, no quintal da avó. Ano sim ano não dá abacates. Grandes e gostosos, mas já ninguém os apanha. Já ninguém os come com pão. E estragam-se. Que pena! Gosto tanto de abacates.
Gosto de tabaibos e de abacates. E também gosto de anonas. São as coisas que aprendi com o avô. Mas já não gosto da crosta de milho no fundo da panela. Não entendo porquê. Se calhar porque era o momento em que riamos mais os dois. E a avó resmungava.
A avó resmungava também quando a mãe tirava a cidra do bolo de mel. E eu tirava as amêndoas. E o bolo de mel ficava com buracos. O avô não via, mas com os dedos, roubava as amêndoas do bolo para me dar. E quando a avó resmungava e perguntava quem foi, ele dizia sempre “fui eu”.
Cá em casa, no Natal, há sempre milho e bolo de mel, e há anonas e abacate, e carne de vinha d’alhos. À mesa somos sempre muitos. Telefona-se sempre à avó no Natal, mas é do avô que se fala sempre à mesa.

Disparates...

O desafio foi lançado por uma amiga (pequena de tamanho físico, mas grande em espírito de justiça, humanidade, honestidade). Diz ela que sei escrever e que os meus textos merecem ser lidos... Loucuras de uma sonhadora! E pronto! Aceitei o desafio e agora ando às voltas para conseguir transformar este espaço em algo legível. Tentarei, prometo!!!