quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O outro

Eu não gosto de bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências

Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos

Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas

o que eu não gosto é de bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu aguento até os estetas
Eu não julgo a competência
Eu não ligo para etiqueta

Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades

Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades
o que eu não gosto é do bom gosto

Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem..

Mário de Sá Carneiro, (magnificamente musicado por Adriana Calcanhoto)

domingo, 6 de setembro de 2009

Poesia na ponta dos dedos

Esta rapariga tem poesia na ponta dos dedos... E faz o favor de ser minha amiga...
Logo, tenho uma amiga com poesia na ponta dos dedos.
Para quem necessitar de confirmações:

http://www.fadoefolia.blogspot.com/

Saudades de Angra

Tenho saudades... nem sei bem ao certo de quê... hoje, em meio a fotos de uma adolescência atrasada, senti vontade de rever amigos que deixei para trás há tantos anos. Lembrei-me que um deles tinha feito anos ontem. Esqueci-me de lhe dar os parabéns, mas lembrei-me dele hoje e senti saudades daquelas noites de copos e loucuras, de paródias que acabavam manhã cedo, já com o sol a surgir no horizonte... de pequenos almoços antes do primeiro sono... Saudades de amizades puras e desinteressadas... quando aquilo que se dizia era porque se sentia e não porque ficava bem ou era politicamente correcto. Saudades de paixões que se viviam intensamente ao som de The Cure, ou de uma tuna académica. Paixões que não tinham futuro, mas que eram intensas naquele momento.
Por todas estas coisas recordei amigos de quem hoje não sei... Recordei uma época em que eram eles a minha família, era eu também a família deles...
Onde andarão? Que farão? Que memórias guardarão daqueles tempos?
Hoje, independentemente do sítio onde se encontram, encontrei-os nas fotos e guardei-os novamente no meu coração e no meu pensamento. E senti saudades...
Com a memória de uma terra que me deu muito que recordar, aqui deixo, neste espaço que, muito provavelmente ele não verá, os parabéns atrasados ao Luís Ermida e os adiantados ao Zé António. E deixo beijos e abraços fortes aos amigos que fiz e deixei no meio do oceano. A todos, para sempre.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

À avó Gertrudes

Olá, avó…
Tenho saudades tuas, tantas saudades tuas.
E tenho tanta pena de não te visitar… pergunto por ti ao teu neto, sim, porque ele é que é teu neto, eu sou apenas a mulher que casou com ele, mas sinto-te como avó. E sinto falta do teu carinho, do teu sentido de humor, da tua maneira de dizer que nos amas mesmo sem usares palavras. E eu sei que me amas, e sei também que tens saudades minhas.
Sinto que o fôlego que ainda te mantém não vai durar eternamente e, sinto também, que, mais dia, menos dia, irás partir… custa-me pensar que não te direi o quanto gosto de ti antes desse dia, mas, às vezes, há coisas que nos magoam tanto que nos impedem de dizer a quem amamos o quanto significam para nós. Por culpa de outros e não nossa, deixei de partilhar contigo tantos momentos nos últimos anos… deixei de rir com as tuas graças, com a tua malandrice.
À pergunta “como está a tua avó?”, a resposta que tenho é “está velhinha…” – e eu sei que sim… afinal já vais a caminho do século, não é?
Custa-me pensar que podes partir sem te despedires de mim… não quero deixar de te dizer o quanto gosto de ti, o quanto tenho saudades tuas… Por isso, já sabes, não podes ir embora antes de eu ganhar a coragem de cagar para tudo e todos, para os ódios que me dedicaram, para a indiferença com que os trato e me tratam, e chegar ao pé de ti, dar-te um abraço grande; um, dois, três, dez beijos e dizer-te “Avó, gosto muito de ti!”.
Tu não te atrevas, ouviste?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ao leme...

É hoje… é hoje o dia em que soltamos as amarras e seguimos com o vento rumo a um horizonte incerto.
Levantamos as velas e seguimos sem destino, lado a lado, tu e eu… porque na promessa de um beijo encontrámos motivos para abraçar esta aventura.
Uma aventura que é nossa porque é nossa a paixão pelo incerto e porque a incógnita do futuro nos excita e alimenta. E porque corpos nus sobre as águas são poemas… são histórias não contadas da conjugação do verbo amar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ao José Luís Peixoto:

Decidi ir espreitar o que se passa no blog do José Luís Peixoto, onde ele dá vazão ao muito que lhe vai na alma.
Li os dois primeiros posts e meia hora depois ainda estava em choque. Ponderei deixar-lhe nos comentários esta mensagem:
"Há meia hora que me sinto uma pouca de trampa, eu que achava que sabia escrever umas coisas. Mas faço a solene promessa de que hei-de continuar a escrever e hei-de escrever tanto que um dia vou ser capaz de escrever como tu. Nem que tenha de ler listas telefónicas para me inspirar, e bulas de medicamentos e embalagens de cereais e pacotes de leite..."
Talvez um dia lá deixe a mensagem. Hoje não! Sinto-me derreada e pequenininha.

Para quem quiser "diminuir-se" :
http://bravonline.abril.com.br/blog/joseluispeixoto/

Tempo verbal

Queria que hoje as coisas fossem diferentes, sem indiferença! Queria que os olhos não traíssem os desejos da alma, mas que, não fossem eles também, a lâmina crua que atravessa e trespassa e faz sangrar o que sobrou de um outro tempo.
Não se ama porque sim... não se deseja porque sim... não se odeia porque sim... Cada sentimento tem o seu tempo, a sua hora, e uma razão. E foi por alguma razão que se amou, se desejou... Mas não chegou a hora, o tempo nem a razão para se odiar.
E por isso, a indiferença, o frio do olhar e dos gestos ainda não pode ter encontrado o seu tempo... Porque quem ama, quem deseja, não encontra o tempo presente do verbo odiar.